Nigéria em guerra<br>escolhe presidente

Carlos Lopes Pereira

Na Ni­géria, en­vol­vida numa guerra contra a seita Boko Haram, há elei­ções pre­si­den­ciais, le­gis­la­tivas e se­na­to­riais no pró­ximo sá­bado, 28. O es­cru­tínio, antes mar­cado para me­ados de Fe­ve­reiro, so­freu um adi­a­mento de seis se­manas por ale­gadas ra­zões de se­gu­rança.

Os re­sul­tados elei­to­rais no mais po­pu­loso país de África e maior pro­dutor de pe­tróleo do con­ti­nente, um dos prin­ci­pais ali­ados dos Es­tados Unidos e da Grã-Bre­tanha, ex-po­tência co­lo­nial, são aguar­dados com ex­pec­ta­tiva nas ca­pi­tais oci­den­tais, que re­ceiam que a Ni­géria se trans­forme num foco de ins­ta­bi­li­dade re­gi­onal. Apre­en­sões sen­tidas também em Adis Abeba, na sede da União Afri­cana, que já des­pa­chou para Abuja uma missão de ob­ser­va­dores, e em Nova Iorque, nas Na­ções Unidas, que pe­diram a todos os par­tidos um com­por­ta­mento de­mo­crá­tico.

As elei­ções podem con­tri­buir para so­lu­ci­onar ou, pelo con­trário, para agravar o san­grento con­flito ar­mado no Nor­deste ni­ge­riano, que já se in­ter­na­ci­o­na­lizou com o en­vol­vi­mento dos exér­citos de países vi­zi­nhos – Chade, Níger e Ca­ma­rões, apoi­ados pela França – e até de mer­ce­ná­rios de origem sul-afri­cana, ao lado das des­mo­ra­li­zadas forças ar­madas ni­ge­ri­anas.

À chefia do Es­tado fe­deral con­correm 14 can­di­datos, entre eles uma única mu­lher, mas a vi­tória vai de­cidir-se entre o pre­si­dente ces­sante, Go­o­dluck Jo­nathan, do Par­tido De­mo­crá­tico Po­pular, e o ge­neral re­for­mado Muham­madu Buhari, apoiado pelo Con­gresso de Todos os Pro­gres­sistas, que uniu as prin­ci­pais forças opo­si­ci­o­nistas rei­vin­di­cando «mu­dança».

Cerca de 68,8 mi­lhões de ni­ge­ri­anos, num total de 173 mi­lhões de ha­bi­tantes, estão re­gis­tados nos ca­dernos elei­to­rais, mas nem todos os car­tões de iden­ti­fi­cação foram dis­tri­buídos pela Co­missão Na­ci­onal Elei­toral In­de­pen­dente, que optou por uma ino­va­dora téc­nica bi­o­mé­trica de voto. Para 11 de Abril está pre­vista outra vo­tação, para es­colha dos go­ver­na­dores e par­la­mentos es­ta­duais.

Op­ti­mismo e in­cer­tezas

A cam­panha para as elei­ções pre­si­den­ciais de sá­bado tem sido re­nhida e os re­sul­tados são im­pre­vi­sí­veis. Em­bora al­gumas son­da­gens apontem para uma van­tagem de Buhari, um mu­çul­mano do Norte, que em me­ados dos anos 80 foi pre­si­dente du­rante 20 meses, à frente de uma junta mi­litar, e ficou co­nhe­cido desde então pelo seu apego à dis­ci­plina e pelo com­bate que travou contra a cor­rupção. Foi der­ru­bado por outro ge­neral, es­teve preso mais de três anos mas re­tomou a car­reira po­lí­tica e esta é a quarta vez que se can­di­data em elei­ções pre­si­den­ciais.

Jo­nathan, um cristão ori­gi­nário do Sul, da re­gião do Delta do Níger, rica em pe­tróleo, perdeu nos úl­timos meses o apoio de de­pu­tados e go­ver­na­dores do seu par­tido e de per­so­na­li­dades po­pu­lares como o ge­neral Olu­segun Oba­sanjo, que foi pre­si­dente da Re­pú­blica da Ni­géria entre 1976 e 1979, no re­gime mi­litar, e, mais tarde, de 1999 a 2007, através de elei­ções plu­ri­par­ti­dá­rias.

O pre­si­dente ces­sante tem sido res­pon­sa­bi­li­zado pela má si­tu­ação eco­nó­mica da Ni­géria – atin­gida pela queda do preço do pe­tróleo – e, so­bre­tudo, cri­ti­cado se­ve­ra­mente pela in­ca­pa­ci­dade de su­focar a in­sur­reição do Boko Haram, agora aliado do grupo jiha­dista Es­tado Is­lâ­mico. Um e outro sus­peitos de serem ar­mados e fi­nan­ci­ados por mo­nar­quias re­ac­ci­o­ná­rias como a Arábia Sau­dita e o Qatar, ali­adas dos Es­tados Unidos na sua es­tra­tégia im­pe­ri­a­lista de guerra, de­ses­ta­bi­li­zação e do­mínio mun­dial.

Desde 2009, o con­flito ar­mado na Ni­géria causou pelo menos 13 mil mortos e mais de um mi­lhão de des­lo­cados no Nor­deste e de re­fu­gi­ados nos países vi­zi­nhos.

Go­o­dluck Jo­nathan, que os apoi­antes acre­ditam fazer jus ao pri­meiro nome (“Sor­tudo”), mos­trou-se nos úl­timos dias op­ti­mista em re­lação à evo­lução da guerra contra os jiha­distas. Numa en­tre­vista à BBC, de Lon­dres, disse es­perar que o exér­cito ni­ge­riano re­tome no prazo de um mês todas as lo­ca­li­dades ocu­padas pelos in­sur­rectos nos es­tados nor­te­nhos de Borno, Yobe e Ada­mawa.

Op­ti­mismo con­tra­riado por muitos ob­ser­va­dores, que en­tendem que o Boko Haram, mesmo acos­sado pelos exér­citos de quatro países, po­derá voltar ra­pi­da­mente às tác­ticas de guer­rilha, e, in­clu­si­va­mente, per­turbar as elei­ções. «Os com­ba­tentes talvez não con­sigam ocupar novos ter­ri­tó­rios mas cer­ta­mente podem en­viar novos ka­mi­kazes para lo­cais pú­blicos, entre os quais as­sem­bleias de voto», ex­plicou Nnamdi Obasi, pe­rito do centro de re­flexão In­ter­na­ti­onal Crisis Group, ci­tado pela Jeune Afrique.

Apesar da contra-ofen­siva mi­litar go­ver­na­mental, em nu­me­rosas zonas no Es­tado de Borno mantém-se uma si­tu­ação de in­se­gu­rança e a opo­sição já pre­veniu que os re­sul­tados serão pouco cre­dí­veis se «os mi­lhões de des­lo­cados do Norte» não pu­derem votar.

 



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